Amigos formulaúnicos,
O primeiro Grande Prêmio no Azerbaijão (oficialmente GP da Europa), no belíssimo circuito de rua de Baku, foi uma decepção. Apesar do notável traçado "meio Monza - meio Mônaco", com velocidade máxima superior a 360km/h no fim da reta e as curvas apertadas do trecho medieval da cidade, como a já clássica subida do Castelo, a prudência dos pilotos garantiu que todos saíssem ilesos, mas em compensação não teremos muito o que lembrar além das paisagens estonteantes.
Rosberg foi o mais rápido do fim de semana, fez a pole, largou bem e nunca mais foi alcançado. Hamilton, depois de desdenhar da dificuldade da pista, errou feio na classificação, teve dificuldades com a configuração do motor durante a corrida e terminou em quinto, vendo o rival de Mercedes abrir 24 pontos no campeonato.
Se algum piloto será lembrado por seu desempenho na corrida, certamente será Sergio Perez. O mexicano já tinha obtido o feito incrível de classificar a Force India em 2º, mas teve de largar em 7º em razão da troca do câmbio, decorrente de um erro seu no terceiro treino livre.
Na corrida, Perez foi perfeito: largou bem, adotou a melhor estratégia, e mesmo quando o 3º lugar já era certo, em razão da punição de Raikkonen, que teria 5 segundos acrescentados ao seu tempo no final da corrida, o mexicano não se conformou e ultrapassou o finlandês na pista, na abertura da última volta.
Com isso, Sergio Perez chegou ao 2º pódio do ano, 4º com a Force India (dos 5 alcançados pela escuderia) e 7º da carreira. Mesmo considerando a fraca temporada de 2013 com a McLaren, que pareceu encerrar uma carreira promissora, o mexicano é sem dúvida o piloto que, na última década, mais impressionou por sua capacidade de levar equipes médias além do que seria esperado.
Nas quatro temporadas em que chegou ao pódio, Perez sempre competiu por escuderias que frequentavam a parte de trás do grid: em 2012, 3 pódios com a Sauber, 6ª colocada no Mundial de Construtores (com 12 equipes); em 2014, 1 pódio com a Force India, 6ª entre 11 construtores; em 2015, mais 1 pódio com a Force India, 5ª entre 10 construtores, e em 2016, até agora, 2 pódios com a Force India, 5ª entre 11 construtores.
Alcançar sete pódios competindo contra, pelo menos, oito carros mais rápidos é um feito raro na categoria. Três trajetórias semelhantes à do mexicano merecem destaque:
Rubens Barrichello, em 1994, conseguiu 1 pódio pela Jordan, 5ª entre 14 construtores; em 1995, mais 1 pódio pela Jordan, 6ª entre 13 construtores; em 1997, 1 pódio pela Stewart, 9ª entre 12 construtores; em 2008, 1 pódio pela Honda, 9ª entre 11 construtores;
Olivier Panis, em 1994, conseguiu 1 pódio pela Ligier, 6ª entre 14 construtores; em 1995, mais 1 pódio pela Ligier, 5ª entre 13 construtores; em 1996, venceu 1 corrida pela Ligier, 6ª entre 11 construtores; em 1997, 2 pódios pela Prost, 6ª entre 12 construtores;
Heinz-Harald Frentzen, em 1995, conseguiu 1 pódio pela Sauber, 7ª entre 13 construtores; em 2000, 2 pódios pela Jordan, 6ª entre 11 construtores; em 2003, 1 pódio pela Sauber, 6ª entre 10 construtores;
Os três exemplos são de pilotos que despontaram em equipes médias quando a confiabilidade dos carros era menor, os casos de falha mecânica eram mais frequentes, e por isso pódios inesperados eram mais viáveis. Por motivos diferentes, nenhum dos três conseguiu ser campeão do mundo: Barrichello aceitou o papel de segundo piloto na Ferrari, ajudou Schumacher a conquistar o título cinco vezes seguidas, e ainda teve de amargar mais um companheiro campeão em 2009 (Jenson Button), na Brawn; Frentzen teve sua grande chance em 1997, mas não conseguiu rivalizar com Jacques Villeneuve na Williams e, depois de um ano ruim em 1998, voltou para equipes menores e teve seu melhor ano em 1999, com duas vitórias pela Jordan; Panis nem chegou a correr por uma equipe de ponta e, depois do sério acidente em 1997, no auge de sua carreira, nunca mais foi o mesmo.
A dura realidade da Fórmula 1 mostra que os futuros campeões são revelados muito cedo e logo são levados para equipes de ponta (Schumacher, Hakkinen, Alonso, Raikkonen, Hamilton, Vettel). A grande exceção dos últimos vinte anos foi Button, que passou longos anos em equipes médias (BAR e Honda) até a sua improvável oportunidade com a Brawn em 2009. Mesmo ele, no entanto, estreou na Williams, grande no nome, mas em reconstrução no início da sua parceria com a BMW.
Perez teve uma chance num péssimo ano: em 2013, a McLaren não conquistou um pódio sequer, e a equipe não teve paciência com seu jovem contratado, atribuindo-lhe parte da culpa.
Desde então, o retrospecto de ambos é notável. A McLaren só conseguiu dois pódios nos últimos três anos, num mesmo GP, o da Austrália, que abriu a temporada de 2014, dando uma falsa impressão de renascimento à equipe; enquanto isso, Perez recuperou a autoconfiança e conquistou 4 pódios com a equipe que o acolheu quando ele estava em baixa.
Tudo indica que, em 2017, Perez terá a sua última chance de brilhar por uma equipe grande. O contrato de Raikkonen termina em 2016, e o mexicano é o mais cotado, junto com Grosjean, que faz boa temporada pela Haas, para a vaga que se abrirá na Ferrari.
Certamente o mexicano se inspirará em Jenson Button, o último campeão tardio da categoria; no entanto, o mais provável é que ele repita a respeitável mas incompleta trajetória de Barrichello, e ajude um alemão de macacão vermelho a encerrar o jejum de títulos da equipe mais tradicional da Fórmula 1.