Senhores!
De volta do abismo, estou aqui hoje para falar de uma obra relativamente recente e de qualidade excelente, de procedência nacional dos autores Fábio Moon e Gabriel Bá, "Daytripper". Tendo sofrido perdas recentes na família, acabei olhando de novo na minha estante para ver a dita obra, da qual me lembrei por ter relação com o tema (mania velha do autor deste texto, de repassar as obras já lidas em busca de um pouco de conforto para as situações da vida). Confesso que este texto está cozinhando nos rascunhos do nosso querido Blogger desde dezembro, mas como reitero aos senhores poeticamente todas as vezes em que costuro um texto: "TÁ FODA".
A revista trata das desventuras de Brás de Oliva Domingos, filho de pai escritor e que luta nas trincheiras do jornalismo a batalha inglória de trabalhar os obituários do seu jornal empregador ao mesmo tempo em que é levado a (tentar) trilhar o caminho de sucesso do pai. Logo nas primeiras páginas somos introduzidos ao peculiar modelo da história, que de tempos em tempos "mata" o seu protagonista durantes os eventos trágicos que se apresentam, somente para nas próximas páginas retornarmos a sua história efetuando um desvio nos eventos de suas mortes, alterando no meio do caminho as decisões e eventos que o levaram embora em prol da continuidade desta grande história.
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Infância |
O peso talvez filosófico deste conto é trazer ao leitor, sempre que o protagonista se vai uma pequena pergunta: e se? E se ele não tivesse se apaixonado, se ele não tivesse resolvido se mudar, se ele não tivesse aceitado aquele emprego. A vida é sempre uma sequência de fatos dos quais raramente temos controle, tal qual corredeira na qual descemos seguindo a força das águas que nos empurram, e o único controle que temos é um pequeno leme que nos proporciona uma mínima direção para que não quebremos nossa pequena embarcação, e o que nos é sugerido durante a leitura são as possibilidades oriundas destas pequenas escolhas, mostrando que pequenas correções de curso podem sim, fazer uma grande diferença (ou não).
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Juventude |
Brás então segue sua vida, da infância como o "Milagrinho" de seus pais, para crescer e descobrir que o sangue de escritor corre na família, e que estará ao longo de seus anos de vida correndo sempre atrás do fantasma de seu pai, que mesmo quando já falecido sempre entra na história para lembra-lo de que as vidas que nos marcam sempre nos seguem após a morte. Tal conflito se segue, desde pequeno, quando o pai tão mergulhado em suas funções editoriais se faz ausente, passando pelas dores da adolescência e juventude tentando descobrir-se até a vida adulta.
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Adultez |
Em tempo de sua própria viagem, Brás nos brinda com seus pensamentos finais, compondo um epitáfio de sonhador ao final da história para nos mostrar como as possíveis tragédias de sua vida culminam em um ser humano que viveu e sentiu e passou adiante seu legado.
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Velhice |
Dos dois somente Bá já me era conhecido anteriormente de nome, quando dei uma lida rápida no impressionante "Umbrella Academy" (falaremos deste depois...), mas fiquei impressionado do Moon já ter feito um material, no caso uma HQ, relacionado ao EXCELENTE seriado "Firefly" (quem não tiver assistido, pode fazer um favor ao seu lado nerd e assistir, quem já viu vai saber do que estou falando), depois de Doctor Who, acho que deve ser um dos mais divertidos que já assisti nos últimos anos. Depois de reler esta obra, acho que vale uma pesquisa melhor sobre outros materiais destes autores, e fico aqui com a vontade de mandar aquele e-mail pro editor das Graphics MSP pra ver este traço na coleção, que já é um espetáculo, mas não custa sonhar (quer saber, vou lá depois de postar isso daqui mandar um twitter pro Sidão).
Arte e roteiro de qualidade inegável, este é o tipo de revista que me deixa orgulhoso da nossa indústria nacional, e ter vontade de ver mais quadrinhos nacionais nas livrarias do nosso Brasil. Continuem assim, rapaziada, meus bolsos dizem não, mas meus lábios dizem sim!
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Um último sonho |
P.S.: A nós que ficamos e pensamos sempre na continuidade da vida após uma perda é quase inevitável a dita pergunta, a tão sonhada possibilidade da reparação da perda e a fatal porém confortante constatação de que a vida por si só, (independente da sua crença de criação) é um milagre, e que mesmo que acabe ou quando acabe é algo a ser celebrado e lembrado com o merecido carinho e respeito pela obra dos que não puderam mais estar conosco.
"Nenhum livro é completo sem o fim. E quando você chega lá... Somente quando lê as últimas palavras... é que você vê como o livro é bom."
Brás de Oliva Domingos, um sonhador.
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