domingo, 20 de setembro de 2015

Faltou combinar com os vermelhos


O GP de Cingapura teve a usual combinação de safety cars, luzes inacreditáveis, poucas ultrapassagens audaciosas garantindo a única ação digna de nota na pista, e Sebastian Vettel no alto do pódio no início da segunda perna asiática da temporada.

Apesar disso, foi a corrida mais estranha de 2015, pela surpreendente perda de performance da Mercedes, com Rosberg largando em sexto e chegando em quarto, e Hamilton abandonando por falta de potência.

A expectativa para o fim de semana era de mais um passeio prateado, e com Hamilton alcançando três marcas incríveis: o recorde de poles consecutivas da Williams (24), de Senna (8) e de vitórias na carreira de Senna (41).

Mas, como diria Garrincha (e profeticamente repetido por Flávio Gomes nos comentários pré-GP), faltou combinar com os russos; nesse caso, com os vermelhos.

Desde a classificação, Vettel só foi ameaçado por seu ex-companheiro de Red Bull, Daniel Ricciardo, e venceu a corrida de ponta a ponta. Com isso, o recorde de poles dificilmente será igualado pela Mercedes, e Hamilton terá de esperar até Suzuka para conquistar a mítica 41ª vitória, e até 2016 para superar as oito poles consecutivas do brasileiro.

Pódio da Corrida de Cingapura 2015
Ao invés disso, quem deixou nosso querido Ayrton para trás foi Sebastian, com sua 42ª vitória, e agora só Alain Prost, com 51, o separa de seu ídolo Michael Schumacher na lista dos maiores vencedores da categoria.

Mas o que chamou a minha atenção foi a superação de uma marca bem mais modesta. No sábado, Vettel conquistou a primeira pole em três anos (e primeira no seco em cinco anos!) da Ferrari, igualando o desempenho de Wolfgang Von Trips, primeiro alemão a vencer corridas na Fórmula 1, que morreu em 1961, enquanto liderava o campeonato que acabou vencido por seu companheiro Phil Hill.

Von Trips conquistou suas duas vitórias e sua única pole na categoria pela Ferrari, e é o longínquo antecedente da espantosa invasão germânica que começou nos anos 1990 com Schumacher.

Quem começou a assistir à categoria depois da morte de Senna dificilmente acreditaria que, até 1991, a Alemanha só tinha três vitórias (além das duas de Von Trips, uma de Mass em 1975); hoje tem 155, e onze campeonatos.

É verdade que a Ferrari sempre se deu bem com os seus vizinhos transalpinos, com os austríacos Lauda e Berger honrando as cores de Maranello nos anos 1970 e 1990, mas hoje é impossível ouvir o hino alemão sem esperar, em seguida, o italiano.

A primeira vitória de Vettel na Fórmula 1, no GP da Itália de 2008, guiando uma Toro Rosso, foi um sinal de que essa sequência voltaria a ser ouvida no final dos Grandes Prêmios.

Com a terceira vitória, Vettel supera Von Trips na lista dos alemães vermelhos, iguala o desempenho de Schumacher em sua temporada de estreia na Ferrari, e conquista de vez o coração da equipe com seus astutos, mas nem por isso menos sinceros, agradecimentos em italiano pelo rádio.

Como já disse algumas vezes, Vettel já é um dos maiores da história, e só falta superar um teste, que é o de enfrentar um companheiro de equipe realmente cascudo, como Ricciardo em 2014, e levar a melhor. Mas nem mesmo Schumacher teve esse desafio, e nem por isso deixa de ter o valor reconhecido. Senna x Prost, Piquet x Mansell, e Hamilton x Alonso são bons exemplos de que esse confronto, além de muito raro, é muito arriscado para as equipes.

Vettel não deve superar as 72 vitórias de Schumacher na Ferrari, até porque, se o fizer, alcançará incríveis 111 vitórias na Fórmula 1, vinte a mais que seu ídolo, o que não parece possível nem para os tifosi mais ensandecidos.
Vettel já era um fã de Schummi... e hoje, vem ganhando o espaço do Hepta campeão no coração dos Tifossi
Além da importância histórica, a vitória da Ferrari reabriu a disputa do campeonato. Vettel tem 49 pontos a menos que Hamilton (duas vitórias de diferença), e, faltando seis corridas para o final, ainda dá para sonhar alto, embora tudo indique que, em Suzuka, a Mercedes voltará ao desempenho avassalador do resto da temporada. Mas, de novo, falta combinar com os vermelhos.

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