Amigos formulaúnicos,
Sei que
o segundo trocadilho com a crise política não terá a mesma graça, mas é
que o calendário tem conspirado a favor. A Fórmula 1 foi surpreendida
na semana passada pela implacável decisão da Red Bull de substituir
Daniil Kvyat por Max Verstappen, depois da desastrada atuação do russo
em Sochi, colidindo duas vezes com Vettel e arruinando a corrida de
ambos.
O estreante David
Coulthard assumiu o lugar deixado na Williams em 1994 pela morte de
Senna, e conquistou um pódio em oito corridas, enquanto o seu
companheiro Damon Hill vencia cinco vezes na luta pelo título contra
Michael Schumacher.
O estreante
Sebastian Vettel substituiu o machucado Robert Kubica na BMW por uma
corrida em 2008, teve uma classificação decente, uma largada ruim e uma
razoável corrida de recuperação, chegando em oitavo em Indianápolis.
O
eterno reserva Luca Badoer substituiu o machucado Felipe Massa na
Ferrari por duas corridas em 2009, e só conseguiu reforçar o seu recorde
de maior número de GPs sem marcar pontos (52), chegando em 17º em
Valência e 14º em Spa. O vexame foi tão grande que a Ferrari recorreu a
Giancarlo Fisichella, que vinha em grande fase na Force India,
conquistando a única pole e o primeiro pódio da equipe em Spa, para
substituir Massa até o fim da temporada, mas o italiano não teve melhor
sorte: cinco corridas sem pontuar, enquanto Raikkonen, na outra Ferrari,
marcava um pontos em três delas, com um pódio em Monza.
Esse
breve histórico recomendava uma certa cautela ao avaliar o desempenho
de Max Verstappen. Se o adolescente holandês tivesse uma classificação
medíocre, uma largada errática, um erro sob pressão, tudo seria
perfeitamente natural, resultado da aclimatação na equipe, que não é
exatamente nova para ele, por ser da mesma família Red Bull, mas é muito
diferente da pequena Toro Rosso, desde os motores Renault à cobrança
implacável de Christian Horner e Helmut Marko.
Logo na classificação,
Max mostrou ao que veio, andando mais rápido que Daniel Ricciardo no Q1 e
no Q2, e só um desempenho perfeito do australiano no Q3, sem dúvida a
melhor volta de todo o fim de semana dentre todos os pilotos, garantiu
que o piloto nº 1 da Red Bull largasse em terceiro, com o estreante Max
num ótimo quarto lugar, na segunda fila, 0,4s mais lento.
A
surpresa que ofuscou todas as outras e ressignificou a decisão da Red
Bull veio na corrida. A desastrada tentativa de ultrapassagem de
Hamilton sobre Rosberg, que tirou os dois pilotos da Mercedes da
corrida, abriu caminho para uma disputa equilibrada entre Red Bull e
Ferrari. Em Barcelona, como era de se esperar, a questão foi decidida na
estratégia: cada equipe tentou fazer duas paradas com um piloto
(Verstappen e Raikkonen) e três paradas com o outro (Vettel e
Ricciardo).
A estratégia que parecia ser a vencedora
foi usada com os ponteiros, e então Verstappen e Raikkonen herdaram a
briga pela liderança. O terceiro jogo de pneus não rendeu o esperado e
Vettel e Ricciardo entraram para uma terceira troca sem conseguir andar
rápido o suficiente para compensar o pit stop adicional.
Quando
ficou claro que a estratégia vencedora era a de duas paradas, lá pela
50ª das 66 voltas, todos os olhos se voltaram para Verstappen. O
adolescente holandês, que em 2015 se destacou por suas ultrapassagens
ousadas e por cometer relativamente poucos erros para a idade (exceto
pela pancada em Romain Grosjean em Mônaco), precisava provar que tinha
outras qualidades indispensáveis para um campeão da F-1: sangue-frio e
consistência.
E Max não decepcionou: conservou os
pneus admiravelmente, andou rápido o tempo todo, não cometeu nenhum
erro, mesmo tendo Raikkonen por vários vezes a menos de 1s de diferença,
usando o DRS para se aproximar.
A vitória de Max
Verstappen é histórica não só pelo motivo óbvio da precocidade absurda (com 18
anos e 7 meses, seu recorde dificilmente será quebrado, sobretudo depois
que a FIA estabeleceu a idade mínima de 18 anos para competir na F-1,
exatamente por conta de sua criticada estreia aos 17 em 2015), mas por
diversos outros motivos:
1) Foi a primeira vez desde o
GP do Bahrein de 2010, vencido por Fernando Alonso com a Ferrari,
em que um piloto ganhou a corrida na sua chegada a uma nova equipe;
2) Foi a primeira vitória da Red Bull desde 2014, e a primeira depois do sério desentendimento com a Renault;
3) Foi a primeira vitória de um holandês na Fórmula 1;
4)
Foi a primeira vez desde o GP da Austrália de 1994, vencido por Nigel
Mansell com a Williams, em que um piloto ganhou depois de chegar a uma
equipe no meio da temporada, mas o inglês só conseguiu isso na sua
quarta corrida. Emerson fizera o mesmo com a Lotus em 1970, no GP dos
Estados Unidos, em que a vitória do brasileiro garantiu o título póstumo
de Jochen Rindt.
5) Não tive paciência para verificar
temporada por temporada, mas provavelmente foi a primeira vez desde
1961, quando Giancarlo Baghetti venceu pela FISA, com uma Ferrari, no GP
da França, em que um piloto conseguiu ganhar sua corrida de estreia por
uma nova equipe no meio da temporada.
Max Verstappen,
aos 18 anos, subiu ao lugar mais alto do pódio ao lado de um piloto com
16 anos de F-1 (Raikkonen) e do piloto que antes dele quebrara todos os
recordes de precocidade (Vettel). Estava à vontade entre os grandes,
que sem dúvida é o seu lugar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário